A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO DO BRASIL

Alunos do Colégio Pedro II em 1887

É tempo de tratarmos de perto deste incomparável imperador e contemplarmos sua beleza intelectual e moral e a influência salutar que exerceu sobre o povo brasileiro. 

A instrução sólida que D. Pedro II recebera e completara com seus próprios esforços, o ensinara a avaliar o preço do saber para o homem e seu imenso valor para um povo. Assim, a instrução pública foi objeto de seus cuidados e constantes preocupações. Escolas primárias, ensino secundário, estabelecimentos científicos, sociedades de cultura, foram sucessivamente fundados e organizados sob os auspícios do sábio imperador. 

Entre as graves preocupações de D. Pedro II, durante quase meio século de reinado, um dos assuntos que sempre mereceram sua particular atenção foi o desenvolvimento da instrução pública, que ele encontrou imperfeita e mal esboçada, quando em 1840 assumiu as rédeas do governo, e que conseguiu melhorar notavelmente, com o auxílio de alguns de seus ministros mais devotados a esta nobre causa.


D. Pedro II tinha tanto interesse pelas escolas e pela educação das crianças, 
que repetia com frequência:

“Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.”

Índio, figura Alegórica do Império
do Brasil
D. Pedro II, além de carismático estadista, revelou-se um mecenas da produção artística e literária no Brasil. O bolsinho do imperador patrocinou diversos literatos, artistas e profissionais de vários ramos da ciência, no intuito de favorecer uma fundamentação e autonomia cultural. Para o jovem monarca, a unificação territorial do império podia ser insuflada pela unicidade cultural, já que a carência de uma identidade verdadeiramente nacional poderia resultar, a médio ou longo prazo, em agente de divisão interna ou de enfraquecimento das instituições do governo; o que repercutiu na necessidade de se adotar uma produção artística de temática autóctone, que realçasse as potencialidades naturais do país, o índio como habitante genuíno e elemento da brasilidade, e os temas históricos nacionais.

Aos 20 anos, D. Pedro II começou um ofício que desempenharia pelo resto da vida: inspetor geral da educação no Império. Presidia à mesa de examinadores, e às vezes perguntava também. Embaraçava os alunos e espicaçava os professores, com a sua proverbial memória e a sua erudição. Dizia que o ensino devia elevar-se, e dava o exemplo, fiscalizando-o com uma tenacidade inigualável. Insistia para que moralizassem a instrução. E não confiava nas informações oficiais, mas ajuizava com os próprios olhos.

Pedro II, por volta dos 25 anos
de idade, c. 1851
Aos 29 anos, acabara por criar no Brasil um verdadeiro mecenato, que atinge todos os ramos da atividade literária, artística e científica. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Varnhagen, entre outros, se encarregam de elevar o nível intelectual do País, estimulados pela atenção que o Soberano dedicava às coisas literárias. Pintores, músicos e escritores encontram apoio e auxílio que chegam por intermédio de viagens de estudos, de encomendas de obras, enfim, por todas as formas de que o Imperador podia dispor. Lendo todos os jornais da Capital e das províncias, tendo à sua disposição funcionários que assinalavam os artigos que podiam interessá-lo, não somente os que se referiam à política, mas também às artes e às letras, o Imperador deseja ter dinheiro apenas para fundar escolas, para a compra de livros, de objetos de arte, de quadros, ou para financiar aqueles que ele julgava dignos de apoio.

Auxilia os artistas em suas realizações. Estimula, com dinheiro do próprio bolso, os estudos de Pedro Américo, Gonçalves Dias e Carlos Gomes, na Europa. Inclusive os estudos do Marechal Deodoro foram bancados pelo Imperador.

Maria Augusta Generoso Estrela, a
primeira médica brasileira.
Durante todo o segundo Reinado, Dom Pedro ll sustentou 151  alunos, dos quais 41 foram estudar no exterior, dois deles eram mulheres, sendo uma delas a primeira médica brasileira, Maria Augusta Generoso Estrela. Desses 151 alunos, 41 foram estudar  no exterior, 65 eram do ensino básico e médio, dos quais 15 eram mulheres. Dom Pedro ll não só pagava os estudos deles, como também os ajudava com livros, enxoval e viagens. Em contrapartida, Dom Pedro ll avaliava suas notas a cada 3 meses e impunha a condição deles retornarem ao Brasil no final dos estudos. 

Ferdinand Wolf foi um estudioso de estudos de romance da Áustria. Foi autor de estudos literários, bem como editor de periódicos, incluindo o Jahrbuch für Romanische und Englische Literatur. Ferdinand avaliou o interesse do Imperador pelas artes:
Ferdinand Wolf (litografia de 1853)

“D. Pedro não se contenta em amar e proteger as ciências e as artes, de reunir em sua Corte sábios e artistas, de os favorecer. Não faz das ciências, das letras e das artes um pedestal de sua ambição. Ele as ama por elas mesmas, e conhece muitos dos seus ramos ele próprio. Foi, talvez, o único que teve essa elevada e desinteressada preocupação pelas artes, letras e ciências
.

E assim surgiram grandes nomes das artes, da musica e da literatura  brasileira: Nas artes tínhamos pintores como: Firmino Monteiro, Victor Meirelles, Pedro Américo, Henrique Bernardelli, Antônio Parreiras, João Batista da Costa, Almeida Junior, Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida... E tantos outros.

Sem esquecer de mencionar a pintora Abigail de Andrade. Abigail foi a primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro de 1º grau na 26ª Exposição Geral de Belas Artes, da Academia Imperial de Belas Artes, em 1884.

A Exposição de 1884 foi a última, a maior e a mais brilhante que se realizou no Segundo Reinado. Nela, Abigail participou na seção de pintura, apresentando quatorze trabalhos: quatro óleos representando cenas do cotidiano, dois retratos, três cópias e cinco estudos de desenho, segundo Catálogo da Exposição. Apesar de estreante, Abigail de Andrade foi premiada com uma medalha de ouro, láurea que dividiu com paisagens dos pintores alemães Thomas Driendl e Georg Grimm e com o pintor italiano Giovani Castagneto - tornando-a a primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro em uma exposição organizada pela Academia Imperial de Belas Artes. Dois óleos, dentre o total da obra apresentada destacavam-se e foram eles que geraram o cobiçado prêmio: "Um canto do meu ateliê" e "Cesto de compras".

Na Literatura tínhamos grandes nomes: Machado de Assis, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, José de Alencar, Castro Alves, Fagundes Varela, Aluísio Azevedo, Raul Pompeia, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Euclides da Cunha, Alberto de Oliveira, Cruz e Souza ... Dentre outros

Além do Maestro Carlos gomes que teve seus estudos financiados pela família imperial, tínhamos também outros gigantes da musica Brasileira: O maestro Elias Álvares Lobo, o compositor Francisco Braga, o pianista e concertista Henrique Oswald, o compositor de musica sacra brasileira o Padre José Maria Xavier, o compositor e regente Alberto Nepomuceno, maestro Anacleto de Medeiros, o pianista e compositor Ernesto Nazareth considerado um dos grandes nomes do maxixe, um subgênero do choro. Tínhamos Joaquim Antônio da Silva Callado considerado o pai do choro, Chiquinha Gonzaga a primeira maestrina brasileira. Foi a primeira pianista chorona e musicista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca com letra ("Ó Abre Alas" de 1899). E muitos outros grandes nomes que influenciaram na formação musical do Brasil.

Chiquinha Gonzaga
 
maestro Elias Álvares Lobo
Francisco Braga



 


Assis Chateaubriand foi jornalista,
professor, mecenas e político
brasileiro. Era membro da Academia
Brasileirade Letras. 
Assis Chateaubriand comentou a respeito de D. Pedro II: 

 “Mau grado o lamentável espetáculo de incapacidade da vida   pública do Brasil, ele criou um ambiente de ordem política, que   era, em larga parte, uma transposição e uma projeção da sua   personalidade vigorosa. A obra mais interessante do Imperador   consistiu na formação das elites no Brasil. Elites políticas, elites   literárias, elites artísticas, ele se preocupava da criação de todas   elas, e com uma sabedoria doce, insinuante e sagaz”.

Terminada a guerra contra o Paraguai, quis a gratidão nacional levantar ao Imperador uma estátua equestre, que chegou a ser modelada em gesso. Abriu-se para isso uma grande subscrição. Quando a iniciativa chegou ao seu conhecimento, D. Pedro recomendou, em carta ao presidente do Conselho de Ministros, que só empregassem seus esforços na aquisição do dinheiro necessário para a construção de edifícios apropriados ao ensino das escolas primárias e para o melhoramento material de outros estabelecimentos de instrução pública. Não queria que a sua figura fosse perpetuada em mármore ou bronze, mas em quatro edifícios consagrados à instrução popular. E concluía a carta:

“Todos os ministros passados e os atuais sabem bem o que eu penso sobre a instrução pública. De há muito venho dizendo que se deve cuidar dela muito seriamente, e que nada me seria mais agradável, agora que se fez triunfar a causa da dignidade nacional, do que ver a nova era de paz e de prosperidade começar por um ato de iniciativa do Brasil, em proveito da educação do povo”.

Foram assim edificadas as escolas do Largo do Machado, da Rua Senador Correia, da Praça XI de Junho e da Rua da Harmonia, no Rio de Janeiro.

Na capital do Império, a instrução primária, secundária e superior dependiam do governo. Nas províncias, as Assembleias provinciais, criadas pelo "Ato Adicional" de 1834, faziam as leis sobre a instrução primaria e secundária. A instrução superior em todo o Império estava a cargo do governo central. 

Em 1857 o Brasil possuía apenas 2.595 escolas públicas primárias com 70.000 alunos; em 1860 o numero de escolas sobe pra 3.516, com mais de 115.000 alunos; em 1886, havia 6.605 escolas publicas com 213.670 alunos; em 1889, são 300.000 alunos frequentando 7.500 escolas publicas para o ensino primário.

Para o ensino secundário, além dos estabelecimentos particulares, havia no Rio o Colégio Imperial D. Pedro II, e Liceus nas províncias.

Para o ensino superior e técnico havia em São Paulo e no Recife (Pernambuco) Faculdades de Direito; 
No Rio e na Bahia existiam Faculdades de Medicina; e nestas duas ultimas cidades e em Ouro Preto, haviam Escolas de Farmácia; 

• No Rio tinha a Escola Politécnica, em Ouro Preto, Escola de Minas
• No Rio, em Porto Alegre e em Fortaleza existiam Escolas Militares, além de colégios preparatórios
• No Rio tinha o Colégio Naval, Escola de Marinha e Escola Superior de Guerra
• No Rio, Bahia, Recife e São Paulo, existiam Liceus de artes e ofícios
• No Rio tinha Academia de Belas Artes, Conservatório de Musica, Instituto de Surdos-Mudos, Instituto dos Jovens Cegos; 
• No Rio e em diversas províncias, existiam institutos agrícolas, e nas província, existiam muitas estações agronômicas e escolas agrícolas. 
• Havia no Brasil muitas escolas normais: uma no Rio, duas na Bahia, sendo uma para professores, e uma nas principais capitais de províncias. Para o ensino religioso católico havia dezenove seminários. 

Durante uma de suas visitas a uma escola noturna no Rio, o Liceu de Artes e Ofícios, o imperador soube que um escravo alforriado estava matriculado e sabia ler, escrever e fazer contas.

"Quando entrava na aula dirigiu-se a ele batendo-lhe no ombro, em sinal de sua imensa satisfação em ver como um homem do povo procurava aprender para um dia ser útil ao país e à família."

A louvável falta de preconceito racial de D. Pedro II significava que ele não percebia a cor da pele como uma barreira à civilização ou a cidadania. Qualquer homem que por esforço próprio se tornasse alfabetizado, assim como Germiniano Monteiro, o escravo alforriado, estava, na visão do imperador, qualificado para exercer a cidadania.

Na astronomia existia no Rio um Observatório Astronômico que publicava um "Anuário" e "Anais" em que apareceram observações de astrônomos brasileiros sobre a passagem de Vênus, feitas em São Thomaz e no estreito de Magalhães em 1882. Havia igualmente no Rio um Departamento Central Meteorológico, um Posto Hidrográfico; muitas Bibliotecas, entre as quais a Biblioteca Nacional (que na época tinham 171.000 volumes, 8.000 manuscritos, 30.000 estampas) que publicava "Anais"; Existiam Museus, entre os quais é preciso citar o Museu Nacional do Rio (dirigido pelo sábio conselheiro Ladislau Netto que publicava "Arquivos" onde se encontram importantes estudos de historia natural e de etnografia; havia também o Museu Escolar.
 
Entre as sociedades cientificas citaremos o Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, a Sociedade de Geografia (presidida pelo primeiro ministro marquês de Paranaguá), a Academia Imperial de Medicina, o Instituto da Ordem dos Advogados, o Instituto Politécnico (presidido por S.A.R. o conde d'Eu) uma sociedade para a propagação das belas artes (presidida pelo conselheiro João Alfredo), muitas sociedades para a propagação da instrução publica. 

Numa palavra, todos os estabelecimentos de educação que a França possuía no século XIX existiam no Brasil; e, era uma coisa lisonjeira para a língua francesa, é sobretudo em livros escritos em nossa língua que se estudava no Brasil. Nas escolas públicas, como aconteciam na França, as crianças de todas as religiões são admitidas por espirito de tolerância e liberdade, e que o ensino religioso é deixado aos cuidados da família e dos sacerdotes da religião em que nasceram.

Note-se que no Brasil havia poucos colégios pertencentes a corporações religiosas e, além disso, embora a religião católica era a do Estado, todas as outras religiões são professadas livremente; o clericalismo não existia, mesmo de nome, nesse país cujo espirito era essencialmente liberal.

FONTES E LINKS

• LIVRO DE ONDE FOI RETIRADO O NUMERO DE ESCOLAS PÚBLICAS "BENJAMIN MOSSÉ - A Vida de D. Pedro II, Edições Cultura Brasileira, SP, 1938. B. F. RAMIZ GALVÃO - O Imperador e a instrução pública - RIHGB, vol. 152, 1925" PDF DOWNLOAD 

• COMISSÃO ASTRONOMICA BRASILEIRA 1882 PDF: 

• ALEGORIA DO IMPÉRIO BRASILEIRO, O INDIO, SIMBOLO DA BRASILIDADE: 

• O MECENATO ARTISTICO DE D. PEDRO II E O PROJETO IMPERIAL: 

DOWNLOAD DO PDF DAS FALLAS DO TRONO: goo.gl/1YSVgJ

• LEOPOLDO BIBIANO XAVIER - Revivendo o Brasil Império - Artpress, São Paulo, 1991.
• JORNAL DO BRASIL - O centenário de Pedro II - 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
• ASSIS CHATEAUBRIAND - Um professor de elites - RIHGB, vol. 152, 1925
• LÍDIA BESOUCHET - Exílio e Morte do Imperador - Nova Fronteira, RJ, 1975, 466 p.
• HEITOR MONIZ - O Segundo Reinado - Leite Ribeiro, RJ, 1928, 258 p.
• FOLCO MASUCCI - Anedotas Históricas Brasileiras - Edanee, SP, 1947, 268 p.
• JORNAL DO BRASIL - D. Pedro II - RJ, 1892, 159 p.
• MIGUEL MILANO - Heróis Brasileiros - Globo, Porto Alegre, 1943, 194 p.
• B. F. RAMIZ GALVÃO - O Imperador e a instrução pública - RIHGB, vol. 152, 1925
• JOSÉ MURILO DE CARVALHO - Dom Pedro II, ser ou não ser - Companhia das Letras, 2007
• RODERICK J. BARMAN - Imperador Cidadão - São Paulo, 2012









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