LEOPOLDINA DE HABSBURGO - A PRIMEIRA MULHER À GOVERNAR O BRASIL INDEPENDENTE

     Retrato por Josef Kreutzinger, 1815
A Imperatriz Leopoldina pertencia à Casa de Habsburgo-  Lorena, nobre família e uma das mais antigas dinastias da  Europa, a qual reinou sobre a Áustria de 1282 até 1918,  dentre outros territórios que imperaram e era a mais antiga  casa reinante na Europa quando Leopoldina nasceu. 

 Era filha do último imperador do Sacro Império Romano-  Germânico Francisco II o qual, a partir de 1804, passou a ser apenas o "Imperador da Áustria" com o título de Francisco I, pois Napoleão I exigiu que ele renunciasse ao título de imperador, essa renuncia aconteceu no mesmo ano em que Napoleão era sagrado imperador dos franceses).

A Imperatriz D. Leopoldina foi arquiduquesa da Áustria, primeira esposa do imperador D. Pedro I e Imperatriz Consorte do Império do Brasil de 1822 até sua morte, também brevemente foi Rainha Consorte do Reino de Portugal e Algarves entre março e maio de 1826.
 
Seu casamento com Pedro I e sequente independência do Brasil fizeram com que se tornasse a primeira imperatriz consorte do país e a primeira imperatriz do Novo Mundo. foi a primeira esposa de Dom Pedro I e uma das construtoras da independência do Brasil.

A EDUCAÇÃO

S.A. Leopoldina de Habsburgo-Lorena,
Imperatriz do Brasil, 1817 -HIM Empress
Leopoldina of Brazil, 1817
A educação que Leopoldina recebera na infância e adolescência era eclética e ampla, de nível cultural superior e formação política mais consistente. Tal educação dos pequenos príncipes e princesas da família Habsburgo baseava-se na crença educacional iniciada por seu avô Leopoldo II, que acreditava "que as crianças deveriam ser desde cedo inspiradas a ter qualidades elevadas, como humanidade, compaixão e desejo de fazer o povo feliz". Com uma profunda fé cristã e uma sólida formação científica e cultural – que incluía política internacional e noções de governo –, a arquiduquesa fora preparada desde cedo para reinar.

Educada com esmero na corte de Viena, seu regime de estudos era muito severo e obedecia a horários muito estritos. A instrução de Leopoldina abarcava as matérias de ensino médio dos nossos dias, dando preferência às ciências naturais, principalmente a botânica, a mineralogia e a física. Tinha aulas de religião, literatura, história, desenho, matemática e línguas.

A maior parte de seus professores provinha dos quadros mais qualificados de suas respectivas especialidades da época, encontrando-se entre eles juristas e teólogos destacados.

A MISSÃO CIENTIFICA

O Palácio de Schönbrunn ou Palácio de Viena, Áustria.
A Imperatriz cresceu no Palácio de Schönbrunn, em Viena, até a data de seu casamento com Pedro de Alcântara, em 1817.

Leopoldina seguramente deve ter apreciado os salões chamados de Bergl com pinturas murais de autoria de Johann Wenzl Bergl realizadas em 1770 que mostram paisagens europeias com uma visão do Trópico, do período final do Barroco. Nelas, a natureza é estudada, analisada, ordenada, planificada – uma série de tapeçarias do patrimônio de Luís XIV, com motivos de paisagens brasileiras, plantas e animais tropicais das coleções da América do Sul no antigo Jardim Botânico (hoje, o palmarium), e do zoológico de Schönbrunn, serviram como modelo.

O Palácio de Schönbrunn com neve.

Mulher superior ao seu tempo, D. Leopoldina era apaixonada pela natureza. Quando veio para o Brasil trouxera missões científicas veio acompanhada por numerosos cientistas, botânicos e pintores. Trouxe vários cientistas austríacos que estudaram a fauna e a flora brasileira. prestigiara a vinda de sábios, tais como Emanuel Pohl e von Martius, que pode ser considerado como o primeiro estrangeiro a revelar o Brasil para a Europa.

Depois de chegar ao Brasil, para onde veio entusiasmada pois se interessava por botânica e mineralogia, acabou respeitando e amando o país

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Quadro histórico Independência ou Morte, por
Pedro Américo, 1888.
É considerada por muitos historiadores como a principal articuladora do processo de Independência do Brasil ocorrido entre 1821 e 1822, notadamente em setembro de 1822.O historiador Paulo Rezzutti, autor do livro “D. Leopoldina — A história não contada: A mulher que arquitetou a Independência do Brasil”, sustenta que foi em grande parte graças a ela que o Brasil se tornou uma nação. Segundo ele, a prometida de D. Pedro “abraçou o Brasil como seu país, os brasileiros como o seu povo e a Independência como a sua causa”. Foi também conselheira de Pedro em importantes decisões políticas que refletiram no futuro da nação, como o Dia do Fico e a posterior oposição e desobediência às cortes portuguesas quanto ao retorno do casal à Portugal. Consequentemente, por reger o país em ocasião das viagens de Pedro pelas províncias brasileiras, é considerada a primeira mulher a se tornar chefe de estado na história do Brasil independente.

Dom Pedro I, pintura de Simplício
Rodrigues de Sá, 1830.
Quando D. Pedro I,  viajou a São Paulo em agosto de 1822, para apaziguar a política (o que culminaria na proclamação da independência do Brasil em setembro),  Havia temores de que uma guerra civil separasse a Província de São Paulo do resto do Brasil. Pedro entregou o poder a Leopoldina a 13 de agosto de 1822, nomeando-a chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com poderes legais para governar o país durante a sua ausência e partiu para apaziguar São Paulo. Leopoldina exerceu a regência e grande foi sua influência no processo de independência.

A princesa recebeu notícias que Portugal estava preparando ação contra o Brasil e, sem tempo para aguardar o retorno de Pedro, Leopoldina, aconselhada por José Bonifácio de Andrada e Silva, e usando de seus atributos de chefe interina do governo, reuniu-se na manhã de 2 de setembro de 1822, com o Conselho de Estado, assinando o decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal. 


Dona Leopoldina, então Princesa Real-Regente do
Reino Unido, preside a reunião do Conselho de
Estado em 2 de setembro de 1822.
A imperatriz envia-lhe uma carta, juntamente com outra de José Bonifácio, além de comentários de Portugal criticando a atuação do marido e de dom João VI. Ela exige que Pedro proclame a Independência do Brasil e, na carta, adverte: "O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece".

A COROAÇÃO DE DOM PEDRO I

Na ocasião da coroação do primeiro monarca do Brasil independente, somente d. Pedro foi coroado. D. Leopoldina, em gravura feita por Jean Baptiste Debret para imortalizar a ocasião, aparece diante do marido, juntamente com a princesa d. Maria da Glória, assistindo à cerimônia. Segundo Max Fleuiss:

Coroação de d. Pedro I. Diante do marido, na tribuna
de honra, estão d. Leopoldina e a princesa
d. Maria da Glória, por Jean-Baptiste Debret, 1826
"Na primeira tribuna baixa imperial, em frente do trono, figuravam, em ar jubiloso, por ver também coroados de êxito os seus ingentes esforços em prol da independência da sua segunda pátria, a quem tanto soube amar e de quem tão amada foi sempre, a sereníssima imperatriz […] com a sua filha d. Maria da Glória."

Diferentemente da coroação de Napoleão, em que Jacques-Louis David representou uma submissa Josefina ajoelhada perante Bonaparte em glória coroando-a, o retrato de Debret, primo do pintor francês, mostra d. Pedro e d. Leopoldina um defronte do outro, com a imperatriz olhando o esposo de cima e este olhando os cortesãos abaixo de si. O casal aparece como em pé de igualdade, sem a subserviência explícita da imperatriz Josefina diante do marido a quem tudo deve.

A Coroação de Napoleão - Le Sacre de Napoléon,
por Jacques Louis David, 1807.


A IMPERATRIZ MODESTA

A Imperatriz Leopoldina não se interessava por roupas caras e enfeites, mas era uma inveterada gastadora, pois seu bom coração a levava muitas vezes a distribuir esmolas da sua própria dotação a todos os que sofriam e vinham apelar para a sua magnanimidade. Com isso ela gastava mais do que podia. Quando morreu, em 1826, verificou-se que tinha algumas dívidas, decorrentes de suas obras de caridade. A Assembleia Legislativa sentiu-se honrada em mandar efetuar o pagamento desses débitos deixados pela Imperatriz.

Carta da Imperatriz Dona Leopoldina a seu pai, Francisco I, Imperador da Áustria, em 6 de abril de 1823.

Desde que meu esposo tomou as rédeas do Estado, Deus sabe que, não por sede de poder ou ambição, mas para satisfazer o desejo do probo povo brasileiro, que se sentia sem regente, dilacerado em seu íntimo por partidos que ameaçavam com uma anarquia ou República; qualquer um que se encontrasse na mesma situação faria o mesmo: aceitar o título de Imperador para satisfazer a todos e criar a unidade. [...] É meu dever fazer o papel de intercessora do nobre povo brasileiro, pois todos nós lhe devemos algo; nas circunstâncias mais críticas, este povo fez os maiores sacrifícios, que demonstram amor à pátria, para proteger sua unidade e o poder real [...]. Todas as províncias se unem pelo mesmo interesse, mesmos anseios. Agora, nada mais me resta desejar senão que o senhor, querido pai, assuma o papel de nosso verdadeiro amigo e aliado; certamente será para meu esposo e para mim um dos nossos dias mais felizes, quando tivermos essa certeza; quanto a mim, caríssimo pai, pode estar convicto de que, caso aconteça o contrário, para nosso maior pesar, sempre permanecerei brasileira de coração, pois é o que determinam minhas obrigações como esposa e mãe, e a gratidão a um povo honrado que se dispôs, quando nos vimos abandonados por todas as potências, a ser nosso esteio, não temendo quaisquer sacrifícios ou perigos.

(Bettina Kann e Patrícia Souza Lima, Cartas de uma Imperatriz, Editora Estação Liberdade, 2006).


FONTES


MARCILIO CASSOTTI - A Biografia Íntima de Leopoldina, Editora Planeta, SP, 2015, 4º Edição

PAULO REZZUTTI - D. Leopoldina - A Historia não contada, Editora Leya, 2017,

LEOPOLDO BIBIANO XAVIER - Revivendo o Brasil-Império, Artpress, SP, 1991.

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